quinta-feira, 29 de setembro de 2011

coisas que eu aprendi na américa do norte.



que essa coisa de 'distância apaga sentimentos e faz esquecer' é uma das maiores mentiras da história. mas a distância ajuda a clarear a cabecinha e mostra que o que já parecia grande pode ser maior que um gigante.
que olhando com jeitinho, nenhum monstro é tão assustador assim.
que todo mundo jura de pés juntos pela mãe mortinha que seus amigos são os melhores do mundo. e devem ser mesmo. pq amigo que não é o melhor do mundo não serve pra porcaria nenhuma.
que se for pra trazer alguém pra sua vida, que seja realmente por motivos nobres. por essa coisa de amor, afeto e tralala. trazer gente pra vida pq ela anda vazia ou a solidão assusta é um belo dum tiro no pé.
que eu sei onde mora meu coração. mas isso nunca vai me fazer parar de querer leva-lo pra passear pelo mundo.
que o mundo é enorme, mas bem menor do que eu imaginava.
que por mais cafona que isso possa soar, quando a gente tem amor, a gente já tem tudo.
que eu sou bem cafona.
que eu amadureci. e que amadurecer não vai fazer de mim uma pessoa 'séria' ou 'adulta'. pelo contrário, continuo com meus defeitos de estimação, com essa incapacidade de me desapegar dumas bobagens que me magoam, continuo magoando os outros. mas aprendi a fugir de briga.
que a gente só dá valor pro requeijão depois que não pode mais tê-lo.
a fazer margarita, cosmopolitan, dry martini, long island ice tea e a servir cerveja.
que não importa onde eu esteja, vou sempre ser uma das netas da vó dora.
que eu não entendo o indie, o descolado ou o hipster. e isso não quer dizer que eu esteja julgando alguém, antes que se ofendam.
que continuo creyça o suficiente pra terminar um post neste blogue citando CFA.

'Sinto uma dor enorme de não ser dois e não poder assim um ter partido, outro ter ficado com todas aquelas pessoas.' - história da minha vida.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

kiss me now that I'm older.


um sapato novo.
um vestido bonito.
um casaco quentinho - porque esse outono novaiorquino ta parecendo inverno curitibano.
me apaixonar em inglês antes de ir embora.
sexo quentinho - porque esses bofes da gringolândia tão precisando dumas aulas de gingado.
bastante palco.
bolo de chocolate.
dry martini.
margaritas.
cosmopolitans.
muito trabalho me esperando no brasil.
que todo mundo receba pelo menos um pouquinho do amor que eu recebo todos os dias.
que todo mundo sempre tenha uma mão pra segurar.
envelhecer ao lado da minha duzia de outras metades.
uma bunda dura sem malhar.
um marido rico e bonito, num futuro médio - distante.
uma protagonista na globo.
depilação.
todo amor que hover nessa vida.

porque o aniversário é meu e eu peço o que quiser.

beijinho, abracinho, amor e presentes pra mim.

g.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

não necessariamente nesta ordem...



uma vez, um menino me disse que o que estava sentindo no momento não era saudade, era falta.
eu nunca tinha entendido direito essa diferença. até agora.
cá estou, 8.034 quilometros distante do último espaço que chamei de meu, as vésperas de despedir-me do inferno astral e pela primeira vez em longos anos sem planejar grandes eventos ou comemorações mirabolantes. 
e tudo bem.
mas acaba sendo meio impossível não dar aquela abraçada gostosa na nostalgia.
daí que sinto saudade de quase nada, acho que porque sei que vai estar tudo ali quando eu voltar. e uma falta bem grande de menos coisas ainda, aquelas que aqui eu confirmei serem essenciais e imprescindíveis para que eu possa existir.
tenho saudade das pistinhas escuras, dos rostos conhecidos, de acordar no dia seguinte temendo fotos e redes sociais. tenho saudade da histeria, do barulho, do colorido. da leveza que o superficial sabiamente traz pra essa vida tão cheia de peso. tenho saudade da hora de acordar no domingo e receber as mensagens do daniel no meu telefone. saudade das sessões em grupo no cinema, da tim, que me deixa passar todas as horas do dia ao telefone com aquela porka pipa. tenho saudade da torturinha de estimação e de friozinhos na barriga. do clima 5a série e todas as chatices e encrencas que dividir sem medida a vida com uma dúzia de outros seres humanos trazem. uma saudade bem grande de microfone, palco, fotografias e cabines de dj. da casa da minha vó e do furacão minha mãe. de sextas feiras muito frias pra poder usar pijama e comer chocolate no sofá com meu pequeno irmão. da lourdes maria - as duas. de estar perto de curitiba. ah! e de coxinha, requeijão, pão de queijo e suco de caixinha sem açucar.

e tem a falta - aquela coisa parecida com não ter um dente ou perder tudo que tinha armazenado no hd - que eu sinto da voz da minha melhor amiga dizendo 'ai, que porka!' e deixando qualquer drama com o tamanho real - nenhum. de ouvir 'ai, eu te amo tanto' toda vez que ganho um abraço apertado do phê. do 'escuta...' seguido de uma pergunta absurda que só a alemanha consegue formular. da gravata borboleta do japão. da pele da minha mãe. de dormir de conchinha com a lolita. de quando o daniel fica bêbado e chora. da minha amiga que aconteça o que acontecer, sempre atende o telefone dizendo 'oi, meu amooooor!'. da casa da polaca. do palco. do meu casal de afilhados. do marcelo que tá tomando conta da minha cama. de dormir com um pijama da beatriz na cama do tiago. de sempre aprender alguma coisa quando estou perto daquele que nasceu loiro. do igorlime. das minhas amigas blogueiras que não tem mais blog. do hétero de estimação. de tomar café com a minha vó. da elegância da manu. do miro. da bolha cafona, vergonhosa e deliciosa de amor em que só acompanhada daquela duzia de gente da 5a série se consegue viver.
e principalmente, da minha bunda de quando eu tinha 23.








quinta-feira, 15 de setembro de 2011

vida louca, vida breve, vida imensa.

daí que resolvi dar uma vivida e abandonei este pequeno espaço.
verdade é que tentei algumas vezes escrever sobre essa vida toda que ando experimentando deste lado do oceano, mas nada que eu colocava nestas mal traçadas linhas me parecia chegar perto do que acontece aqui dentro e lá fora.

daí que estoy aqui (quierendo te) mais uma vez experimentando aquela sensação gostosa de protagonizar uma história do jeito que eu decidi escrevê-la. e daí que entendi que as vezes a gente escreve a história, mas na maioria delas, é ela que escreve a gente...

beijinho, abracinho, amor e saudade.

g.









terça-feira, 30 de agosto de 2011


'E eu quis te dizer que tudo bem, eu seria uma menina simples. Eu mataria meu narrador, minhas possibilidades, meus mundos, minhas invenções. Só de ver seus cachos mais grisalhos e rococós ornando seus medos e superficialidades eu desejei não ser mais eu pra ser qualquer coisa que pudesse ser sua. Mas enchi meu peito surrado e murcho de coragem e te disse que, infelizmente, onde você era apenas um copo d' água eu era a tempestade.'

Tati Bernardi

terça-feira, 31 de maio de 2011

cafajeste até pode, mas tem que ser limpinho.


'Afinal de contas, mulher é metonímia, parte pelo todo, você passa a apreciá-la por uma boca, um pé, uma orelha, uma mão, uma omoplata, um belo ilíaco ressaltado, uma saboneteira, uma marca sulcada de vacina, um corte no joelhinho esquerdo, uma cicatriz de artes de infância, uma bela bunda faceira, uma falsa magra, um umbiguinho do mundo, aquele tom cinza dos cotovelos da espera...'

xico sá, engrossando meu amor pela turma dos bofes chucros. aquela dos cafajestes líricos e de bom coração. 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

start spreading the news...

Tenho uma mala e um coração cheios de espaços para preencher.














E lá vou eu.
Porque ir, eu descobri, é da minha natureza...



quinta-feira, 5 de maio de 2011

vai que... né?

'ai, acho que vou ficar apaixonada por ele de novo. assim, por uns 4, 5 dias...'
'como assim, graziela? e depois?'
'depois passa, ué!'
'...'

'amor de proveta - o nome disso. custa caro, não tem muita garantia, às vezes dá merda e se der sorte, funciona.'

quarta-feira, 4 de maio de 2011

né?


'amor!'
'é só isso que você quer da vida? amor?'
'fama, glamour e fortuna já vieram configurados de fábrica. eu quero amor. amor absoluto. sabe como? amor por tudo e de tudo que houver ao redor.'
'e só?'
'ah, e alguem que me coma loucamente. claro...'

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Round one: FIGHT!


'Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem no Crato...nem em Estocolmo. Nem no Beco da Facada, no Recife, nem na Chácara Flora, San Pablo.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa.

Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.'

Xico Sá, me lembrando da verdade...
.

quarta-feira, 13 de abril de 2011


'Confesso que ando muito cansado, sabe? Mas um cansaço diferente… um cansaço de não querer mais reclamar, de não querer pedir, de não fazer nada, de deixar as coisas acontecerem. Confesso que às vezes me dão umas crises de choro que parecem não parar, um medo e ao mesmo tempo uma certeza de tudo que quero ser, que quero fazer. Confesso que você estava em todos esses meus planos, mas eu sinto que as coisas vão escorrendo entre meus dedos, se derramando, não me pertencendo. Estou realmente cansado. Cansado e cansado de ser mar agitado, de ser tempestade… quero ser mar calmo. Preciso de segurança, de amor, de compreensão, de atenção, de alguém que sente comigo e fale: “Calma, eu estou com você e vou te proteger! Nós vamos ser fortes juntos, juntos, juntos.” Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo. Confesso, confesso, confesso. Confesso que agora só espero você.'

Caio Fernando Abreu 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

quem nunca?


Não me peça o que eu não quero te dar

"Desde o começo você sabia que ia ser assim. Não me venha reclamar agora. Não me venha cobrar, pedir o que eu não posso dar. Os meus problemas são meus e você não tem nada ver com isso, não me importa que você chupe o meu pau segundas, quartas e sextas, não me importa que a gente comente o noticiário junto todos os dias.

Não me importa que você mergulhe nos meus conflitos, que eu massageie os seus pés, que a gente se encontre aos sábados debaixo do cobertor, que eu viaje de férias com a família e que você visite meus parentes.Você freqüenta a copa mundial infantil para me fazer companhia ? E dai? Isso lhe dá algum direito?

Quem você pensa que é para se meter na minha vida assim, para exigir de mim qualquer coisa que seja, um grande amor, um crime passional?"

Ela engoliu o resto de choro.

“Ah, não acredito! Ficou chateadinha!”

www.02neuronio.com.br

Portal Lia Line 06 - Agora, aguenta coração!

Acabo de levar à exaustão meus canais lacrimais pela enésima vez assistindo a uma comédia romântica e me pergunto mais uma vez: por quê?
Que componente maligno desses filmes entupidos de clichês e cafonices tem esse poder sobre mim, meu povo?Sério. As coisas não acontecem assim na vida e minha sofrida experiência no planeta dos relacionamentos diz que ta ficando difícil acreditar num ‘felizes para sempre’.Eu nem sou muito mocinha. Sou torcedora de futebol, tenho cadeira no estádio, entendo regra de impedimento e escalação de time, odeio discutir relação e morro de preconceito de apelidos românticos.Ta, mentira. Tirando o que foi citado acima, eu sou bem mocinha.
Meu coração mole e bobo é o maior pedaço de mim e consegue ser muito mais potente em termos dominar minha vida que meu forte e decidido cérebro.A ironia é que eu sou essa bolinha de amor e vivo tentando encontrar motivos pra não ser amada. Os monstros na minha cabeça repetem mantras do tipo: ‘Você tá gorda demais, é estranha demais, bonita de menos. Exige demais, é boba demais, fácil demais, se apaixona demais, cobra demais, faz sexo demais, faz sexo de menos...’
Passo tanto tempo procurando motivos pra não ser amada que esqueço de todos os motivos para ser. De todas as pessoas ao meu redor que me amam incondicionalmente, que perdoam meus defeitos e superfaturam minhas qualidades. Gente elegante, bonita, talentosa, inteligente que faz questão de me ter por perto mesmo nos momentos mais agudos de mau humor ou tpm.
Ok, meus amigos são ótimos, da melhor qualidade de pessoa que já habitou o planeta, mas fato é que nenhum deles acorda sem roupa debaixo do meu edredom (não em condições normais, pelo menos) e é muito mais difícil sobreviver a estes invernos rigorosos do sul do país sem um corpo quente pra roubar as cobertas.Mas, se esse povo incrível pode ter tanto amor por mim, de onde eu tiro essa incapacidade em acreditar que um mero mortal do sexo masculino também possa? Em entender que nem sempre o problema ta comigo? Tem gente por aí que não sabe amar. E esse tipo de gente não se pode curar.
Começo a achar que esses filmes mela cueca mexem tanto comigo porque a gente precisa um bocadinho deles. Porque a vida é uma dureza mesmo e todo dia uma pá de gente disposta a partir seu coração vai cruzar o seu caminho e no meio dessa montanha de desilusão, corre-se o sério risco de desacreditar, de cair no buraco negro da amargura e do cinismo. E o discurso brega de que o amor pode acontecer e funcionar e ser incrível e superar barreiras e tudo isso com uma trilha sonora linda e cabelos impecáveis tem lá sua sabedoria.
É o que alimenta no fundinho escondido do meu ser a crença no mocinho de bom coração, tênis surrado e tatuagens bacanas que vai cruzar o meu caminho numa tarde qualquer e fazer de mim uma mulher honesta e vergonhosamente feliz. Pode ser que ele ainda demore um tanto, ou até já tenha se perdido pelo caminho. Mas se decidir aparecer, estaremos por aqui de braços, pernas e portas abertas – que eu não sou mocinha de comédia romântica, mas posso acreditar que talvez existam finais felizes.

*texto originalmente publicado no Portal Lia Line

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

,dear mr. big



acabei de me despedir do último pedacinho seu que vivia na minha casa e - olha! - não foi nada difícil.
encontrei por acaso, escondidinho no fundo mofado de uma gaveta sem uso e joguei no lixo. simples assim.
só então me dei conta de que os seus restos não me interessam mais. e agradeço a você por isso.
obrigada por não ter acreditado no personagem da mocinha-indefesa-que-aceita-qualquer-migalha-em-nome-do-amor.
eu cresci (e agora sou mulher) e há algum tempo raspas e restos não me interessam.
uma pena, dissemos. uma pena...
eu digo: olha, mesmo a uma distância que hoje me parece gigante no espaço/tempo, eu sempre vou gostar de você. e agradecer por ter me dado material pra lembrar de você sorrindo. e foi isso que a gente sempre tentou, não? que fosse doce, leve e nos fizesse sorrir...

então é isto. um beijo, um queijo e um adeus.

yours truly

carrie b.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

e aí? - diz meu coração...



'And I say, I can see me in your eyes
You said, i can see you in my bed
That's not just friendship, that's romance too
You like music, we can dance too

Sit me down
Shut me up
I'll calm down
And I'll get along with you...'

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

sem mais, att. graziela.


ELOGIO AO AMOR
Miguel Esteves Cardoso

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.

Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá tudo bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra.

O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”.

Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes.

Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá paraperceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida.

A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.

Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.