Acabo de levar à exaustão meus canais lacrimais pela enésima vez  assistindo a uma comédia romântica e me pergunto mais uma vez: por quê?
Que componente maligno desses filmes entupidos de clichês e cafonices  tem esse poder sobre mim, meu povo?Sério. As coisas não acontecem assim  na vida e minha sofrida experiência no planeta dos relacionamentos diz  que ta ficando difícil acreditar num ‘felizes para sempre’.Eu nem sou  muito mocinha. Sou torcedora de futebol, tenho cadeira no estádio,  entendo regra de impedimento e escalação de time, odeio discutir relação  e morro de preconceito de apelidos românticos.Ta, mentira. Tirando o  que foi citado acima, eu sou bem mocinha.
Meu coração mole e bobo é o maior pedaço de mim e consegue ser  muito mais potente em termos dominar minha vida que meu forte e decidido  cérebro.A ironia é que eu sou essa bolinha de amor e vivo tentando  encontrar motivos pra não ser amada. Os monstros na minha cabeça repetem  mantras do tipo: ‘Você tá gorda demais, é estranha demais, bonita de  menos. Exige demais, é boba demais, fácil demais, se apaixona demais,  cobra demais, faz sexo demais, faz sexo de menos...’
Passo tanto tempo procurando motivos pra não ser amada que esqueço de  todos os motivos para ser. De todas as pessoas ao meu redor que me amam  incondicionalmente, que perdoam meus defeitos e superfaturam minhas  qualidades. Gente elegante, bonita, talentosa, inteligente que faz  questão de me ter por perto mesmo nos momentos mais agudos de mau humor  ou tpm.
Ok, meus amigos são ótimos, da melhor qualidade de pessoa que já  habitou o planeta, mas fato é que nenhum deles acorda sem roupa debaixo  do meu edredom (não em condições normais, pelo menos) e é muito mais  difícil sobreviver a estes invernos rigorosos do sul do país sem um  corpo quente pra roubar as cobertas.Mas, se esse povo incrível pode ter  tanto amor por mim, de onde eu tiro essa incapacidade em acreditar que  um mero mortal do sexo masculino também possa? Em entender que nem  sempre o problema ta comigo? Tem gente por aí que não sabe amar. E esse  tipo de gente não se pode curar.
Começo a achar que esses filmes mela cueca mexem tanto comigo porque a  gente precisa um bocadinho deles. Porque a vida é uma dureza mesmo e  todo dia uma pá de gente disposta a partir seu coração vai cruzar o seu  caminho e no meio dessa montanha de desilusão, corre-se o sério risco de  desacreditar, de cair no buraco negro da amargura e do cinismo. E o  discurso brega de que o amor pode acontecer e funcionar e ser incrível e  superar barreiras e tudo isso com uma trilha sonora linda e cabelos  impecáveis tem lá sua sabedoria.
É o que alimenta no fundinho escondido do meu ser a crença no mocinho  de bom coração, tênis surrado e tatuagens bacanas que vai cruzar o meu  caminho numa tarde qualquer e fazer de mim uma mulher honesta e  vergonhosamente feliz. Pode ser que ele ainda demore um tanto, ou até já  tenha se perdido pelo caminho. Mas se decidir aparecer, estaremos por  aqui de braços, pernas e portas abertas – que eu não sou mocinha de  comédia romântica, mas posso acreditar que talvez existam finais  felizes.
*texto originalmente publicado no Portal Lia Line.  

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